ENTREVISTAS COM ARTE/EDUCADORES 2:
Nada melhor para o Dia dos Professores do que uma conversa entre professores.
Neste segundo post da série "Entrevistas com Arte/educadores", AEOL conversa com Ednaldo Nunes Britto, professor na Educação Básica e no Ensino Superior em Belém.
ARTEDUCAÇÃO ONLINE conheceu Ednaldo através da promoção sobre Susana Rodrigues e agradece a gentileza deste arte/educador em compartilhar conosco seus pareceres sobre arte e educação no Pará.
AEOL: Como surgiu seu interesse pelo ensino da arte?
Ednaldo: Quando decidi cursar Artes Plásticas na Universidade Federal do Pará eu tinha apenas 19 anos. Com esta idade eu ainda não conseguia compreender, exatamente, o que significava ser licenciado em Artes.
O prazer que eu sentia ao ter contato com a linguagem do desenho foi o que me desviou da velha tradição familiar de sempre optar pelas áreas do direito ou da medicina. Hoje, embora eu compreenda a importância das outras áreas do conhecimento, não tenho dúvidas que fiz a melhor escolha.
A compreensão do significado do ensino de arte foi algo que se constituiu em mim durante o período em que frequentei a licenciatura. Lembro do importante contato que tive com os livros “O que é arte” do professor Jorge Coli e “O que é beleza” de João-Francisco Duarte Júnior, publicados em formato de bolso pela editora Brasiliense. A partir deste momento, meu envolvimento emocional com as artes visuais adquiriu também um caráter racional e reflexivo.
AEOL: Quais fundamentos sobre arte/educação norteiam sua prática docente?
Ednaldo: Essencialmente, considero a arte uma capacidade humana ancestral e inalienável de transformação da realidade por meio do senso estético. Esta definição, fundamentada na concepção de arte como capacidade humana, mantém em minha prática docente um vínculo permanente com o conceito de “Educação como prática da liberdade” formulado por Paulo Freire.
Considero também as teorizações elaboradas por cientistas ou pensadores ligados a outras áreas do conhecimento, tais como Darcy Ribeiro (antropologia), Pierre Bourdieu (Sociologia), Michel Foucault (Filosofia), Ruy Cezar do Espírito Santo (Educação), João de Jesus Paes Loureiro (Estética e Literatura) e Howard Gardner (Neurologia).
Ao optar por tais fundamentos, excluo de minhas práticas educativas a possibilidade do emprego dos conhecimentos artísticos e estéticos como meros instrumentos para a vinculação da formação discente aos interesses do sistema das artes.
Antes, e de forma prazerosa, a obtenção de tais conhecimentos deve significar para os estudantes um entendimento crítico da presença e condição da arte em suas vidas e na sociedade.
AEOL: Compartilhe conosco alguma experiência de ensino/aprendizagem da arte que você considera marcante.
Ednaldo: Após quinze anos como educador e gestor cultural considero - em meio a tantas experiências e projetos educacionais que realizei ou participei - que a prática do ensino de arte em espaços urbanos, fora das quatro paredes das salas de aulas, foram as mais significativas experiências didáticas que tive a oportunidade de planejar e compartilhar com os meus alunos.
Transformar a cidade e seus elementos constitutivos em matéria prima para o exercício da educação em arte, é algo fascinante. Foi a partir desta ideia que propus aulas-passeio pelo centro histórico de Belém aos meus alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Escola Municipal Miguel Pernambuco Filho e do curso de Artes Visuais da UFPA.
Após algumas orientações e estudos preliminares, vivenciamos experiências educacionais onde a observação direta da paisagem urbana e o diálogo se constituiram como elementos condutores do aprendizado.
AEOL: Conte-nos um pouco sobre o panorama da arte contemporânea em Belém.
Ednaldo: Santa Maria de Belém do Grão Pará é uma cidade culturalmente ímpar que irá completar quatrocentos anos de existência em plena Amazônia. Cidade onde as marcas deixadas pela história se misturam hoje às torres de concreto que verticalizam a paisagem urbana para abrigar "novos ricos". Um lugar assim, não poderia deixar de ter uma produção de arte que não fosse também ímpar e, ao mesmo tempo, repleta de contradições.
No que diz respeito à produção atual, ligada ao sistema das artes, é possível afirmar que o cenário nunca foi tão promissor para os artistas locais. Arrisco-me a dizer que a geração do pintor Emmanuel Nassar e do fotógrafo Luiz Braga, nas décadas de 1980 e 1990, foi responsável pela projeção inicial da arte contemporânea produzida em Belém para os cenários nacional e internacional.
Atualmente, artistas belenenses estão participando da Bienal de São Paulo e de exposições na China, integram o acervo do Museu de Arte de São Paulo, estão realizando intercâmbios e conferências no Canadá e recebendo prêmios por suas obras.
O lamentável diante deste cenário tão significativo é saber que um número considerável de professores de arte que atua nas escolas da cidade desconhece esta realidade, e que o acesso às obras de arte ainda é mantido como algo restrito a uma minoria da população local.
http://www.aeol.com.br/2010/10/entrevistas-com-arteeducadores-2.html